No amanhecer tranquilo que precedia uma nova expedi??o, duas garotas se encontravam diante do mural de miss?es, o local onde os destinos eram escolhidos e, às vezes, selados. As olheiras embaixo de seus olhos deixava claro o qu?o desgastante foi a noite anterior, onde todo o grupo madrugou diante dos projetos de seus futuros equipamentos, mas um trabalho mais profundo precisaria ser feito para definir o novo estilo pelo qual Júlia caminharia.
Ana, com um olhar crítico, mas inexperiente, analisava as op??es disponíveis, quando de repente apontou para um dos papéis.
— Esta aqui parece adequada para nós duas — disse a garota, indicando para uma miss?o que solicitava a investiga??o de atividades suspeitas em uma das novas aldeias próximas. — N?o é muito perigosa, mas é o suficiente para nos manter alertas.
Alex e Felipe n?o estavam em condi??es para uma possível batalha, ent?o permaneceriam em repouso por mais alguns dias. Felizmente, com a medicina moderna somada às po??es milagrosas da nova era de mana, n?o demoraria muito para voltarem a ativa.
Os bolsos dos mercenários estavam cheios o suficiente para relaxarem até a próxima miss?o obrigatória, mas querendo entender melhor como Júlia se encaixa com diferentes armas antes de se trancar na forja, Ana sugeriu uma rápida viagem.
— Acho que é boa o suficiente — a resposta da ca?adora foi vaga, e Ana percebeu que seus pensamentos estavam vagando longe do mural à sua frente. As m?os sempre firmes da jovem mostravam um quase imperceptível tremor, denunciando seu nervosismo.
— Você parece inquieta, está tudo bem?
— Eu... Eu já vi muitas mortes em Aurórea, e foi o mesmo durante as miss?es depois de ter voltado para a terra, mas nunca tive que lidar com ela t?o de perto antes, nunca foi alguém t?o próximo — confessou Júlia, as palavras saindo com dificuldade. — Eu tenho uma irm?, Ana. Ela está muito doente, e eu… estou com medo. Se eu n?o voltar da miss?o, ela terá que ficar sozinha. Eu sou tudo que ela tem.
“Eu n?o deveria me meter na vida dos outros”, pensou Ana, suspirando. Apesar disso, olhou para o rosto cansado da garota ruiva ao seu lado, soltando as palavras lentamente.
— Sabe, pode parecer bobeira, mas estudei medicina no meu… tempo livre. Se importa se eu conhecê-la? Talvez eu possa fazer algo por ela antes de partirmos.
A oferta surpreendeu Júlia, que encarou Ana com uma mistura de surpresa e descren?a. Ela respirou fundo, seus ombros caíram levemente, mas ela aceitou de forma relutante.
— Você faria isso? Seria... seria incrível.
— Me leve até ela.
Deixando o mural de miss?es para trás, as duas caminharam a passos largos para a casa onde a irm? estava sendo cuidada.
— Me fale um pouco mais da situa??o.
— Ela se chama Eva. Os médicos da cidade n?o conseguiram descobrir qual o problema e ela n?o tem for?as para viajar para ser examinada em outros locais, ent?o tudo que posso fazer é a deixar confortável ao invés de presa em camas de hospital.
— Ent?o ninguém sabe o que ela tem?
— Infelizmente n?o. A dois anos ela come?ou a ter desmaios repentinos e fortes dores de cabe?a. No come?o acontecia muito raramente, mas piorou dia após dia desde ent?o.
Ana ouviu atentamente. Como uma enciclopédia, sua mente já formulava possíveis causas e tratamentos.
Chegando na casa, Ana foi recebida por um quarto silencioso onde Eva repousava. Seus cabelos eram de um vermelho ardente, como os de Júlia, e a jovem passava um ar animado de infancia, mas sua pele pálida e respira??o fraca indicavam a gravidade de sua condi??o. Ana aproximou-se com confian?a, examinando o corpo da garota cuidadosamente.
— O quarto está muito bem equipado, a análise ficará muito mais fácil com equipamentos t?o modernos.
— Isso é tudo gra?as a você, apenas recentemente tive dinheiro o suficiente para eles, mas n?o est?o ajudando tanto.
Ana acomodou-se ao lado da cama de Eva, seus perspicazes olhos já fazendo uma observa??o detalhada dos sinais vitais da paciente. Com sentidos agu?ados e um vasto conhecimento, ela come?ou a aplicar um exame inicial básico, avaliando a coordena??o, for?a muscular e resposta pupilares de Eva.
Com precis?o, ela testou os reflexos de Eva, observando qualquer anormalidade ou atraso nas respostas. Os exames seguiram um equipamento de cada vez, com as m?os de Ana anotando cada detalhe em um pequeno bloco de papel.
Ana, ent?o, coletou uma amostra de sangue de Eva, usando uma seringa esterilizada para extrair sangue de uma veia visível no bra?o da paciente. Após completar a avalia??o física, ela se voltou para Júlia.
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— Preciso que você compre algumas ervas para mim: arnica, ginkgo biloba, e cúrcuma. Elas têm propriedades que podem ajudar a aliviar inflama??o e melhorar a circula??o sanguínea no cérebro — instruiu a aspirante a médica, sem tirar os olhos de suas anota??es.
Júlia assentiu e saiu para buscar o pedido. Enquanto isso, Ana configurou um pequeno laboratório improvisado para realizar testes mais específicos. Usando um kit de biologia molecular que estava empoeirado no canto do quarto, foram preparadas laminas de microscópio com amostras do sangue de Eva, tingindo-as para identificar qualquer anormalidade nas células sanguíneas, sinais de infec??o viral ou bacteriana.
A noite passou lentamente com o meticuloso trabalho continuando sem descanso, combinando uma série de ervas com outros agentes bioquímicos, ajustando as propor??es baseada nas respostas que observava em cada lamina.
Os primeiros raios de sol entraram sutilmente pela janela, e com eles a mercenária finalmente selou um pequeno frasco contendo um brilhante líquido azulado, uma velocidade que faria grandes cientistas sentirem inveja.
— Acredito que isso possa ajudar a Eva, ao menos a aliviar alguns sintomas enquanto buscamos uma solu??o permanente — disse Ana a Júlia, entregando-lhe o frasco. — Vamos come?ar com pequenas doses e observar como ela responde.
A ca?adora n?o havia conseguido pregar os olhos durante a noite, mantendo uma constante express?o de esperan?a ao observar Ana trabalhar. Cansada, mas agora com um fio de uma animada antecipa??o, segurou o frasco com as duas m?os, despejando com cuidado na pequena boca da garota doente.
Nas horas seguintes, Júlia observou cada leve melhora na respira??o de Eva, sentindo uma onda de alívio t?o intensa que parecia física. Seus ombros, tensos há meses com o peso da preocupa??o, finalmente relaxaram um pouco ao ver a irm? se sentar na cama com mais energia do que tinha mostrado em meses.
— Parece que estamos no caminho certo — murmurou Ana, satisfeita com o progresso. — Vamos monitorá-la ao longo do dia. Se tudo continuar bem, podemos partir para a miss?o amanh?.
Júlia, aliviada, respondeu com um apertado abra?o agradecido. As palavras n?o conseguiam sair, mas seu cora??o batia forte ao saber que servia a esta estranha garota.
— Qual o seu problema? Você n?o sabe para que serve um maldito escudo?
As palavras de Ana soaram mais duras do que ela pretendia, mas o calor da batalha deixava pouco espa?o para gentilezas. Elas estavam em meio a uma trilha estreita, um caminho improvisado e pouco seguro para o vilarejo, marcado por confrontos esporádicos com criaturas que emergiam de entre as árvores.
— Eu estou tentando! N?o é como se eu treinasse com um escudo a vida toda, tá? Me dá um tempo! — Júlia, segurando o escudo de forma desajeitada, respondeu com a voz elevada, a frustra??o evidente em seu rosto suado.
“Paciência é uma virtude, Ana, paciência é uma virtude”, pensou, mordendo os lábios para n?o xingar mais a ca?adora. Elas avan?avam, e a cada novo ataque de mephits que saltavam das sombras, Júlia lutava para encontrar o ritmo certo entre bloquear com o escudo e atacar com a espada curta.
As pequenas criaturas elementais tinham uma aparência humanoide e express?o travessa. Elas voavam agilmente com as deformadas asas em suas costas, tornando-as difíceis de acertar, mas suas reais habilidades mágicas eram baixas, n?o sendo uma amea?a real para qualquer pessoa mais forte que um civil comum. Apesar disso, era inegável que seus confusos feiti?os complicam o treinamento.
— Venha aqui agora, pequeno filho da puta — a jovem ruiva ficava cada vez mais brava cada vez que as criaturas acertavam fracos socos em seu rosto, se esquiando com gargalhadas logo em seguida.
— Se você levantar esse escudo um segundo mais cedo, n?o vai acabar com um olho roxo! — Ana instruiu enquanto desviava de um golpe e retalhava outro mephit com um movimento fluido de sua faca.
Júlia tentou seguir o conselho, mas seu tempo de rea??o ainda estava ruim. Um dos seres, mais ousado que os demais, aproveitou a abertura, avan?ando no escudo com for?a suficiente para fazer Júlia cambalear para trás.
— Chega, n?o consigo com isso! — Respirando fundo após desviar de um ataque de fogo de um dos Mephits e quase ser atingida por uma rajada de gelo de outro, a garota jogou o escudo e a pequena espada no ch?o, com um gesto de frustra??o.
Ana observou por um momento, avaliando a situa??o. Já era a quarta arma experimentada, mas sejam adagas, lan?as ou luvas cheias de espinhos, nada parecia se encaixar na jovem à sua frente. Baixando de suas costas a pesada mochila cheia dos mais diversos armamentos, a rainha mercenária puxou uma longa e elegante espada.
— Certo, tente isso.
Júlia, um tanto hesitante, agarrou a arma com ambas as m?os. A leveza e o equilíbrio da arma surpreenderam-na, foi uma conex?o quase imediata.
— Que tipo de arma é essa… é grande, mas t?o leve! — suas palavras pareciam revitalizadas.
— Se chama Nodachi. Pode parecer uma espada de duas m?os comuns, mas como você disse, é bem mais leve.
— é incrível! Isso sim é lutar! — disse Júlia, animada ao cortar um mephit de vapor ao meio, com uma clara satisfa??o de ver a criatura dissipar-se no ar.
Parecia intimidante no início, mas seu treinamento anterior com armas mais pesadas fez com que os movimentos com a nodachi parecessem naturais. Uma eficácia n?o vista anteriormente foi apresentada enquanto a garota corria através dos mephits, cada golpe com potência e precis?o inacreditáveis.
“Parece que finalmente achamos um substituto, mas… por que ela luta como se segurasse um martelo?”, Ana observou a matan?a à sua frente com uma express?o confusa, mas logo um leve sorriso surgiu em seu rosto.
à medida que se aproximavam do vilarejo, o número de criaturas aumentava significativamente, mas agora Júlia movia-se com mais confian?a, cada golpe seu mais certeiro do que o último, cada desvio preciso e adequado para a espada em suas m?os.
Finalmente, elas alcan?aram os limites do vilarejo ao entardecer. O silêncio que as recebia era inquietante — n?o havia sinais de luta, mas uma tens?o invisível parecia preencher o ar.
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