Após algumas horas de descanso precário, o grupo se levantou. O cansa?o era visível em seus rostos, mas estavam prontos para continuar.
— Vamos seguir em frente — disse Ana, ajudando Júlia a se levantar. — Tivemos sorte até agora, mas temos que acabar logo com isso.
A igreja continuava a se revelar como um labirinto de corredores e escadas. Cada andar parecia mais opressivo que o anterior, como se a própria estrutura da igreja estivesse tentando esmagá-los. Eles desceram por escadas estreitas e úmidas, chegando aos pisos subterraneos.
— Isso está ficando cada vez mais estranho — murmurou Felipe, olhando para as paredes de pedra que pareciam fechar-se ao redor deles.
— Fiquem alertas. N?o sabemos o que podemos encontrar aqui embaixo — respondeu Ana.
Finalmente, o grupo chegou a um par de portas de ferro imensas. Figuras mitológicas estavam desenhadas por toda sua extens?o e as bordas eram feitas de algum tipo de elegante pedra preciosa, refletindo brilhantemente a fraca luz das velas que derretiam nos casti?ais próximos.
— Eles devem estar escondendo algo importante lá embaixo — disse Felipe, já preparando seu bra?o mecanico.
Sem outros caminhos no corredor em que estavam, empurraram a porta lentamente, se deparando com uma grande camara. Velas eram vistas em cada canto, além de longos bancos comumente vistos em igrejas. O teto abobadado era finamente decorado com obras diversas, uma clara reprodu??o da Capela Sistina. Mas, ao invés da conhecida “Cria??o de Ad?o”, o encontro do homem e seu criador, encontrava-se o anjo escuro que o grupo havia visto na grande estátua da entrada. Lágrimas de sangue saiam de seus olhos enquanto se ajoelhava perante um tiranico deus.
No centro da camara havia um imponente piano de cauda, seu brilho negro contrastando com o opaco ambiente ao redor. Um homem alto e magro, com cabelos castanhos que chegavam pouco acima dos ombros, estava sentado no pequeno banco em frente ao instrumento, vestindo um manto negro com detalhados bordados dourados. Seus olhos estavam fechados, e sua express?o era de concentra??o intensa enquanto tocava uma suave melodia sombria.
— Ele deve ser o bispo — sussurrou Júlia, apertando o cabo de seu martelo.
O homem abriu os olhos lentamente ao ouvir a conversa, um sorriso frio curvando seus lábios.
— Bem-vindos, jovens filhos. Eu sou Maurice, o bispo desta igreja. Posso saber quem tenho a honra de receber em minha morada?
— Somos a Ironia Divina! — gritou a ca?adora ruiva, uma express?o confiante apareceu em seu rosto ao dizer o nome do bando, o que trouxe certa vergonha alheia aos outros, mas fingiram estar tudo bem para n?o constranger a garota.
— Oh, sim. é bem… ir?nico — murmurou o bispo, rindo da apresenta??o inocente. — Sentem-se, meus caros, a missa estava prestes a come?ar.
Sem mais palavras, ele come?ou a tocar uma melodia mais rápida e agressiva. à medida que os dedos magros do homem deslizavam pelas teclas, uma energia negra come?ava a emanar do piano, preenchendo a sala com uma aura opressiva. As sombras ao redor come?aram a se mover, tomando formas amea?adoras. O ar vibrava de forma anormal, e uma vertigem intensa atingiu o cérebro do grupo mercenário.
— Fiquem atentos! Ele está usando magia sonora! — gritou Ana, dando um passo à frente enquanto levantava sua espada.
Vendo que a garota ainda se movia, Maurice come?ou a recitar ora??es em uma língua estranha, sua voz se misturando à música para criar uma cacofonia destrutiva. Rachaduras surgiam rapidamente nas paredes conforme o volume se intensificava.
As ondas de energia sonora batiam como uma marreta nos jovens, causando uma hemorragia em seus tímpanos, com finos fios de sangue escorrendo de seus ouvidos. Ainda assim, Ana corria em dire??o ao bispo rapidamente, e com um esfor?o final, conseguiu se aproximar o suficiente para lan?ar sua espada em um arco mortal. A lamina negra brilhou sobre a luz das inúmeras velas enquanto se aproximava das m?os do pianista.
Diferente do esperado, o sorriso do bispo se manteve. A poucos centímetros de distancia da lamina, um tornado preto surgiu a uma velocidade absurda do ch?o, fazendo o homem flutuar a alguns metros do ch?o junto com seu piano.
Apesar da instabilidade aérea, cada movimento do bispo parecia calculado para causar o máximo de caos. Suas m?os se moviam com precis?o mortal. Ana sentia cada nota reverberar em seus ossos, fazendo uma bagun?a em seus órg?os internos. Os outros, em um estado ainda pior, come?aram a vomitar ali mesmo.
Para sorte de todos, a música saiu de seu aparente clímax, com Maurice baixando do tornado do outro lado do sal?o, dando um respiro aos guerreiros incapacitados.
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— Venham, filhos das sombras — gritou o homem, sem parar de tocar. — Mostrem a ben??o da M?e para estes convidados indesejados.
Com o estranho chamado, seguidores come?aram a entrar na sala em um ritmo incessante. Seus olhos estavam totalmente escuros, e diferente de antes, n?o come?aram a suplicar, mas sim se jogaram violentamente contra eles em um claro ataque suicida.
— Temos que pará-lo! — gritou Alex, bloqueando um ataque de uma mulher insana com uma das m?os.
— Estou tentando! — respondeu Felipe, disparando projéteis rúnicos contra o bispo em uma tentativa de fazê-lo parar de tocar.
Até mesmo Júlia, ainda abalada pelos eventos anteriores, foi obrigada a matar indiscriminadamente. Os seguidores n?o eram fortes, mas lutaram até seus corpos n?o aguentarem mais: se arrastavam quando pernas eram perdidas, bra?os quebrados apenas mudava seus ataques para mordidas e pulm?es esmagados fazia com que corressem enquanto suas bocas espumavam sangue. Pareciam n?o sentir dor, apenas lutando como se nada mais importasse.
O bispo n?o parou de recitar ora??es em nenhum momento, mesmo que parecessem afetar os próprios membros da igreja. Ana, Alex, Júlia e Felipe lutaram com todas as suas for?as, suas armas destruindo tudo que tocavam enquanto mal conseguiam sair do lugar.
— Alex, você tem que criar barreiras para fechar as portas, n?o vamos conseguir fazer nada se n?o pararem de entrar — gritou Ana, tentando fazer sua voz sobressair o som da intensa batalha.
— Eu n?o consigo chegar até lá!
— Acho que posso ajudar, mas só teremos uma oportunidade para cada porta — disse Felipe. — Assim que ver o disparo, corra para a porta da direita, mas n?o antes!
Estendendo seu bra?o ao colocar um cartucho azul em seu pulso, Felipe iniciou a ativa??o do projétil. A bala brilhou cada vez mais em um azul celeste, chegando ao ponto em que parecia que o jovem estava segurando um raio nas próprias m?os. E ent?o, assim que parecia prestes a explodir, uma esfera semi-transparente foi disparada, voando de forma estranhamente lenta enquanto imobilizava todos os seguidores no caminho da direita.
Alex, notando que era a hora certa, disparou em dire??o a porta. As runas da luva acenderam sutilmente em uma cor terracota, e, após um poderoso salto, ele socou o ch?o com toda a sua for?a, fazendo as pedras abaixo do ch?o de madeira subirem como firmes placas que impediam a entrada. Infelizmente seu cálculo de tempo foi impreciso, e ele caiu ajoelhado, também afetado pelos resquícios da esfera de choque que chegou apenas um instante antes.
— Mas que porra, n?o consigo levantar!
— Júlia, cuide dos inimigos da esquerda com Felipe, eu ficarei na porta da frente! — Vendo que o jovem estava incapacitado, mas fora de perigo imediato, Ana deu ordens para que dividissem o embate.
Conforme o tempo passava, a sensa??o de tontura ao ouvir a música aumentava, fazendo com que uma sensa??o de urgência come?asse a brotar enquanto sua espada decepava membros de todos que se aproximavam em cortes contínuos.
— Felipe, acha que vocês dois conseguem segurar as portas sozinhos por um tempo?
— Se continuarem vindo sem parar, n?o mais que uns dois minutos, por quê?
— quero que pegue a muni??o explosiva, no meu sinal, atire em mim.
Sem tempo para mais perguntas, o jovem foi para trás de Júlia para preparar o disparo. A garota do martelo n?o parecia mais estar consciente, tinha tanta gente indo em sua dire??o que ela apenas balan?ava a pesada arma indiscriminadamente, destruindo os ossos a cada acerto.
— Vamos, dispare agora! — Ana, vendo que a arma parecia estar pronta, puxou dois seguidores próximos em um tipo de abra?o.
Suas costas viraram-se para Maurice com um giro brusco ao ver as chamas indo em sua dire??o. No momento certo, Ana afrouxou seu aperto e se escondeu atrás dos homens que segurava.
Ambos foram carbonizados quase de imediato, mas a for?a repulsiva da explos?o a lan?ou a uma velocidade incrível.
“Podia ter sido um pouco menos doloroso”, pensou a garota, sorrindo enquanto voava em dire??o ao piano. Grandes bocados de sangue saiam de sua boca, provindos do impacto ter piorado suas les?es de forma significativa.
O bispo foi pego de surpresa, gritando uma nota alta e discordante que ecoou pelo sal?o na tentativa de fazer o tornado surgir novamente, mas foi um momento tarde, pois Ana caiu diretamente em cima do piano que come?ava a subir no ar, fechando-o com um forte baque.
A música cessou de imediato, e com isso o ímpeto dos seguidores baixou, com muitos desmaiando onde estavam, como se a energia que os deixava em frenesi se esvaísse de uma vez só de seus corpos.
Maurice tentou recuar, mas Ana n?o lhe deu chance. Com uma estocada precisa, perfurou o cora??o do bispo. A vida se esvaia lentamente de seu corpo, mas de repente o olhar cheio de ódio que era direcionado à garota tornou-se estranhamente carinhoso.
— Oh, quem diria que em minha morte eu teria a maior das honras! — suas palavras eram animadas, mas n?o passavam de uma rouquid?o baixa, anunciando a iminente chegada de seu fim.
— Do que você está falando? — perguntou Ana, intrigada com toda a situa??o.
— Desse artefato, é claro! — exclamou, olhando para a espada curta que o perfurava. — é uma verdadeira ben??o poder sentir o toque da M?e t?o de perto em meus últimos suspiros…
Seus olhos escureceram enquanto soltava suas últimas palavras, acompanhado por um longo suspiro que saiu de seus lábios. Maurice estava morto, tornando-se nada mais do que outra das finas marcas brancas no corpo da arma negra, deixando a rainha mercenária com mais perguntas do que respostas.
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