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Capítulo 52 - Melódica Brutalidade

  Dellos avan?ava lentamente, como se aproveitando os gritos da multid?o que rugia de excita??o. O olhar de Ana acompanhava cada passo, fixo na criatura à sua frente.

  "De pé na arena, mais uma vez", pensou, sentindo uma onda de familiaridade.

  Sem armas e com poucas op??es, a garota come?ou a circular, mantendo uma distancia segura enquanto estudava os movimentos do panda. Cada perna era erguida de forma cuidadosa e calculada, seus sentidos em alerta máximo para contra-atacar qualquer a??o inesperada.

  Atendendo às expectativas da mercenária, Dellos lan?ou-se para frente sem aviso, as garras afiadas mirando em seu torso. Ela saltou para o lado, rolando na areia suja e se levantando em um movimento fluido. Seus olhos vasculharam a arena em busca de qualquer coisa que pudesse usar para atacar, mas n?o havia nada.

  “Talvez eu esteja no lugar certo”, seu cora??o come?ou a bater mais rápido ao sentir a ansia por sangue da platéia.

  Com um grito de desafio, Ana correu em dire??o à fera, esquivando-se dos golpes desajeitados, mas poderosos, que a criatura desferia. Seus punhos encontraram o pelo grosso de Dellos repetidamente, mas era como socar uma parede de pedra coberta por uma camada de algod?o. Cada impacto nos duros músculos enviava ondas de dor por seus bra?os, mas n?o causava dano visível ao urso.

  “Aqui é onde me sinto viva. A adrenalina da luta, a dan?a da vida e da morte”, os arredores come?aram a sumir de sua vis?o. Apenas ela e seu inimigo existiam naquele mundo.

  Mudando de tática, pegou um punhado de areia e jogou nos olhos da fera. Dellos recuou momentaneamente, balan?ando a cabe?a para afastar a irrita??o. Aproveitando a abertura, Ana deslizou pela lateral do grande corpo, desferindo uma série de socos rápidos no focinho da criatura. Ainda assim, o efeito continuou mínimo.

  — Droga... n?o vou conseguir nada assim — murmurou, ofegante. Dellos rugiu, suas garras varrendo o ar em um arco amplo enquanto permanecia sem enxergar.

  "Ainda assim, nesses momentos... é como se tudo se encaixasse", o ch?o de terra batida que tocava sua pele trazia uma peculiar sensa??o de paz à mercenária.

  Era o lugar onde sempre se sentiu mais viva, mais livre. Lembrava-se de todas as lutas, de todos os momentos felizes de êxtase enquanto seu próprio sangue se misturava com o sangue de seus oponentes.

  “Mesmo sabendo que posso morrer aqui... é reconfortante.", o suor escorrendo pelo rosto enquanto girava com gra?a sobre os calcanhares, desviando de mais uma investida, trazia um sentimento de familiaridade. Cada golpe que desferiu, cada esquiva, era um lembrete de todas as lutas que enfrentou no novo mundo.

  A multid?o aplaudia de pé a bizarra troca de socos entre um gigante monstro e uma pequena humana. A resistência de Ana baixava lentamente, e em um momento de descuido, a criatura acertou pela primeira vez um golpe, destro?ando parte da carne de seu bra?o esquerdo.

  A dor era excruciante, mas a brancura dos ossos que apareceram sob sua pele a trouxe uma clareza brutal, retirando-a de seus devaneios.

  “Eu sou t?o burra... Meu corpo sempre foi um dos meus pequenos orgulhos, quando passei a depender tanto de ferramentas externas?”

  Em meio a pensamentos e resmungos, deu alguns saltos para trás, se afastando de Dellos, o qual observou a a??o com um olhar quase zombeteiro. Ela olhou para as arquibancadas, notando a express?o feliz das milhares de pessoas, mas apenas o som de seu próprio cora??o chegava a seus ouvidos.

  Um sorriso determinado surgiu em seus lábios. Uma decis?o foi tomada ao colocar o bra?o ferido no ch?o de forma brusca, apoiando-se nele de uma maneira que qualquer outro consideraria suicida. Com um movimento preciso e doloroso, colocou o joelho sobre ele, impulsionando-se para baixo com toda a for?a. Um som nauseante ecoou pela arena quando uma fratura aberta rasgou o que sobrava de sua pele.

  O osso quebrado de seu antebra?o reluziu com o sangue que escorria incessantemente. Ana suprimiu qualquer tipo de grito e, com a nova arma em m?o, se lan?ou novamente contra o panda. Usando sua agilidade, esquivou-se das grandes patas que vinham em sua dire??o e desferiu um golpe com a fratura óssea diretamente no olho esquerdo do monstro. Dellos urrou de dor, recuando alguns passos.

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  A rainha mercenária aproveitou o momento de vantagem, atacando sem cessar, usando a lan?a improvisada para perfurar a criatura múltiplas vezes. O urso tentou retaliar, mas estava claro que o ímpeto da luta havia mudado. A garota, cada vez mais animada conforme o sangue permeava suas leves roupas de linho, manteve a press?o, obrigando a criatura monocromática a recuar cada vez mais.

  Finalmente, em um movimento ousado, Ana saltou sobre o bra?o da criatura, escalando-a em dois movimentos e cravando o bra?o na nuca da besta. Seus ossos afiados do rádio e ulna se afastaram de uma forma anormal conforme atravessavam os músculos firmes, causando uma dor insuportável, mas ela n?o parou, atravessando a carne cada vez mais profundamente. Dellos estremeceu, sua enorme forma balan?ando antes de cair pesadamente no ch?o, já morto.

  Ana caiu de joelhos, exausta, mas vitoriosa. Usando o que restava de sua for?a, se arrastou até a criatura tombada. Seus ossos rasgaram lentamente o peito do grande panda, e sua m?o livre arrancou seu cora??o com uma forte puxada.

  “Me desculpe, mas você é meu sacrifício”, pensou, mordendo o cora??o da fera.

  N?o foi uma a??o consciente, apenas fruto do costume e memória muscular de seus longos meses na escurid?o. Ela n?o havia comido carne de monstros desde que foi capturada, mas vendo o sangue fresco à sua frente, seu corpo se moveu por instinto, relembrando a inebriante e revigorante sensa??o da mana entrando em seu corpo.

  Seus olhos se fecharam para sentir o peda?o mastigado de carne atravessando sua garganta. Sangue tra?ava padr?es complexos em sua pele enquanto escorria dos cantos de sua boca e de seus ferimentos, misturando-se com a areia suja.

  Ana ergueu a cabe?a e viu a mulher musculosa que a havia comprado, observando com um largo sorriso, levantando um polegar de aprova??o. Por algum motivo, gostou dela, n?o sentindo a mesma repulsa que sentia dos escravistas, apesar de saber que a situa??o n?o era muito diferente.

  — hm hm… Hoje, nos despedimos de nossa antiga fera da boa-sorte — gritou o locutor, se recuperando da cena. — Uma nova era se inicia, e o primeiro sangue foi derramado!

  Os espectadores, que haviam ficado em silêncio por um momento após a sucess?o de acontecimentos chocantes, explodiram em aplausos e aclama??es.

  Horas depois, Ana estava em sua cela, o silêncio pesado contrastando com o tumulto da batalha. Suas roupas estavam encharcadas de sangue seco e suor, e a dor latejava em seu bra?o quebrado, agora enfaixado de forma improvisada. Ela tentava limpar o sangue e a areia de sua pele com movimentos lentos e precisos.

  A porta da cela se abriu, revelando a figura imponente da mulher musculosa que a havia comprado. Ela entrou, carregando uma bandeja com comida e uma express?o indecifrável no rosto.

  — Você se saiu melhor do que eu esperava — disse a mulher, colocando a bandeja no ch?o e se aproximando da garota ferida. — Mas n?o pense que isso significa que terá vida fácil aqui.

  Ana olhou para a bandeja, ent?o para a mulher. Seus olhos brilharam com uma mistura de curiosidade e desconfian?a. Lentamente, pegou um peda?o de p?o da bandeja, mordendo-o com avidez. Fazia meio ano que n?o comia p?o branco, o intenso sabor do trigo fez cócegas em sua língua.

  — Qual é o seu nome? — perguntou a mercenária, entre mordidas.

  — Meu nome é Cassandra. E o seu?

  — Ana.

  Cassandra assentiu, como se estivesse for?ando-se a gravá-lo em sua mente.

  — Você terá uma chance de sobreviver aqui, Ana. Mas terá que lutar, e lutar bem. Há muitos interessados em ver o quanto você pode aguentar.

  Ana engoliu um gole de água limpa, sentindo a frescura descendo por sua garganta seca. Seus olhos encontraram os de Cassandra, e por um momento, uma compreens?o silenciosa passou entre as duas.

  — Por que me comprou? — perguntou ela, a curiosidade vencendo a exaust?o.

  A mulher deu de ombros, uma express?o pensativa cruzando seu rosto.

  — Vi algo em você. Algo que me lembrou de mim mesma quando cheguei aqui. A diferen?a é que eu tive que lutar pelo meu espa?o sem ninguém para apostar em mim. Você pode considerar isso uma sorte ou uma maldi??o, mas serei uma grande apoiadora por trás das arenas.

  Ana assentiu lentamente, absorvendo as palavras. A determina??o em seus olhos se intensificou.

  — Você sabia que eu poderia ganhar? — perguntou, sua voz baixa, mas firme.

  — é claro que n?o, o objetivo n?o era sua vitória. Mas sabia que você tinha potencial para uma briga que agradasse a plateia — As palavras saíram juntas a um meio sorriso, e logo prosseguiu cruzando os bra?os sobre o peito. — Claro, aqui o potencial n?o significa muito se n?o for bem aproveitado. Descanse agora, em breve ir?o vir aqui cuidar desses ferimentos. Amanh?, come?a uma nova etapa de sua vida.

  Com isso, Cassandra se virou e saiu da cela, fechando a porta atrás de si. Ana se recostou na parede fria, fechando os olhos por um momento. O silêncio voltou a reinar, mas desta vez, havia uma sensa??o de propósito no ar. N?o era onde ela gostaria de estar, mas também ela n?o desgostava completamente deste destino.

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