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Capítulo 29 - Leviathan

  “Ent?o é daí que veio o nome”, pensou Ana, com um misto de admira??o e temor.

  O olho à sua frente era imenso, cobrindo boa parte do céu visível. Sua cor era um azul profundo, quase surreal, contrastando vivamente com o cinza ao redor. Em frente a tal olhar penetrante, o mundo pareceu parar.

  No entanto, tal cenário só durou um breve instante. T?o rápido quanto se abriu, o olho voltou a se fechar, seguindo seu caminho. Acompanhando-o, uma massa branca que se estendia por quil?metros lentamente se revelou de entre a neblina.

  Era uma vis?o fantástica. Uma baleia nadava no céu como se estivesse no mais profundo mar. Estranhamente, as nuvens n?o se dispersaram com seus movimentos massivos, mas sim abriam suavemente passagem para a criatura.

  Em suas costas, esplêndidos prédios se erguiam, com os quentes raios solares refletindo fortemente em seus muitos vitrais. As constru??es eram como uma coroa para um majestoso imperador dos céus, e as baixas muralhas, n?o muito úteis em tal na??o, iam além do que o olho conseguia ver.

  Este era o objetivo da miss?o, a cidade que orgulhosamente cruzava os céus ao redor do mundo.

  — Espera, isso é… Ei, acordem, rápido! Precisamos embarcar! — gritou a garota, fugindo da admira??o que a paralisava.

  Ana notou centenas de grossas cordas penduradas ao redor da baleia, t?o grandes e pesadas que quase tocavam o ch?o, muitas vezes destruindo partes das árvores nas quais esbarravam. N?o parecia que a cidade ia parar para esperá-los, ent?o uma suposi??o silenciosa emergiu na mente da mercenária: as cordas eram a única entrada para o reino dos céus.

  “Maldita Madame, como p?de n?o ter me avisado de um detalhe t?o importante?”, enquanto amaldi?oava, ela continuou a correr em dire??o ao acampamento. Ao longe, viu que todos haviam caído na mesma pris?o mental que ela com a inacreditável vis?o.

  — Vocês n?o ouviram? Corram, peguem apenas o que for mais importante, a cidade está quase indo embora!

  — Cidade? Do que você está falando, Ana? — Júlia franziu a testa, ainda tentando assimilar a cena diante de seus olhos.

  Ana respirou fundo, apontando para cima com uma urgência que fez sua voz tremer.

  — Olhe para a porcaria do céu, garota! Esse monstro, essa maravilha… isso é Leviathan!

  — O quê? Uma cidade nas costas de uma baleia?! Eu achei que a cidade móvel seria… sei lá, uma máquina! — finalmente percebendo a situa??o após uma nova olhada rápida para a baleia, ela saltou em dire??o a sua barraca.

  Os outros já haviam pegado suas mochilas e estavam correndo em dire??o a Ana, fazendo-a se apressar ainda mais.

  As últimas cordas estavam batendo fortemente contra o penhasco, fazendo altos sons que intensificaram a urgência da situa??o. Vendo que o grupo se reuniu, a rainha mercenária se agarrou a uma delas.

  “Merda, é mais difícil do que pensei, espero que os outros consigam se virar”, pensou ela. A corda era feita de um material áspero que machucava as m?os durante o aperto firme e, apesar de parecer estar voando lentamente, a for?a do vento que caiu sobre seu corpo após embarcar era forte o suficiente para que todos os seus músculos se contraíssem ao máximo.

  Olhando para baixo, viu que todos conseguiram subir. Ou melhor, quase todos.

  — N?o me deixem pra trás! Ei, me esperem! Eeeei! — Júlia gritava sem parar enquanto corria com todas as suas for?as para alcan?ar a última corda.

  Todos que estavam pendurados se encararam com um sorriso torto, ignorando por um momento a voz da garota ruiva, mas já se preparando para soltar a corda. Ela n?o iria sobreviver sozinha no meio da floresta, ent?o n?o iriam deixá-la para trás só por causa de uma miss?o, por mais importante que fosse.

  — Espera, ainda temos uma chance — gritou Ana, tentando fazer sua voz sobressair-se ao vento intenso. — Brayner, use esses encantamentos estranhos em Alex, deixe-o o mais rápido que puder. Alex, quero que você pegue aquela idiota e use impulsos contínuos com suas luvas em dire??o as cordas. Se n?o der certo, nos soltaremos também.

  Antes do fim das instru??es, o bibliotecário já havia come?ado seus rápidos murmúrios. No entanto, em um infeliz acidente, o livro aberto em suas m?os escapou, fazendo círculos no ar antes de se perder em meio às árvores.

  — Pelo jeito vamos ter realmente que descer — disse Felipe, desesperan?oso depois do acontecimento.

  — N?o, esque?a o livro, tenho cópias em casa. Eu consegui terminar o canto, Alex.

  O milagroso vento come?ou a fluir ao redor do grande ca?ador, o qual já havia se soltado no exato instante que sentiu seu corpo ficar mais leve. Com uma rápida disparada, ele agarrou a cintura da ca?adora atrasada, a jogando sobre o ombro.

  — Mais cuidado, n?o sou um saco de batata! — resmungou a garota, envergonhada com a situa??o. Ela sabia que era sua culpa, ent?o apenas cobriu as bochechas vermelhas enquanto observava o ofegante Alex correndo de volta para a corda.

  Com um estranho salto, o ca?ador se jogou em dire??o ao ch?o, pousando bruscamente com a palma aberta de sua m?o livre. Um pilar de terra nasceu mágicamente entre seus dedos com uma for?a avassaladora, lan?ando-o a metros de altura.

  — Te peguei!

  — Obr… obrigado, ch. chefe… — respondeu Alex, as palavras mal saindo de sua boca enquanto tentava ajustar sua respira??o.

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  Ana o estava segurando no ar com bra?os trêmulos, ent?o ele rapidamente ajudou Júlia a se prender a corda, segurando também logo em seguida. Ainda vermelha, a garota lan?ou um aceno a todos em claro agradecimento, antes de baixar a cabe?a para tentar se estabilizar melhor.

  — Todos estamos aqui, isso é ótimo, mas… e agora? — perguntou Felipe.

  — Como assim “e agora”? Agora temos que subir, n?o é? — Alex olhou confuso em dire??o ao irm?o.

  — E você tem for?as para fazer isso, espert?o? Mesmo com a for?a da prótese, sinto que no momento em que eu soltar uma das m?os eu vou sair voando!

  — é uma espécie de teste, apenas os qualificados podem subir. Quando soube que vocês eram todos aventureiros rank E e mesmo assim tentariam, pensei que tinham um plano já definido… — gritou Brayner, chamando a aten??o do restante do grupo.

  Todos olharam para a líder da equipe de forma questionadora, mas ela apenas deu de ombros, esbo?ando um sorriso constrangido. Notando que realmente n?o sabiam sobre o assunto, o bibliotecário continuou.

  — Bem, isso é o mínimo esperado. Afinal, estamos em Leviathan, a misteriosa cidade da sabedoria, da aventura e do desafio!

  "Finalmente, terra firme... mais ou menos," pensou Ana, enquanto ajudava Júlia a se estabilizar depois do esfor?o da subida.

  O dia havia sido difícil, a exaust?o tomou conta de cada membro do grupo, o cansa?o era palpável naquelas cordas titanicas, mas a determina??o de todos foi recompensada: após horas de agonia e adrenalina, a noite trouxe uma mudan?a inesperada. Como se obedecendo ao ciclo natural da vida, a baleia desacelerou, adentrando um estado de semi-sono que permitiu a ascens?o final do grupo à cidade.

  As luzes de Leviathan brilhavam intensamente contra o céu noturno, cada lampada e lanterna desenhando contornos de edifícios espetaculares que prometiam maravilhas e segredos. à medida que se aproximavam, a arquitetura impressionante tornava-se mais clara — torres altas, domos reluzentes e estruturas flutuantes que desafiavam a gravidade e a compreens?o, uma mistura eclética de arquitetura antiga e moderna que refletia o percurso n?made da cidade através dos céus.

  Para a sorte de todos, n?o havia guardas nos port?es, permitindo-os entrar diretamente no local. Imediatamente após cruzarem o grande arco das muralhas, o grupo foi envolvido por uma atmosfera de fascínio e admira??o. As ruas eram como um caldeir?o cultural fervilhante, um mosaico de influências de todos os cantos do mundo. Sua popula??o, apesar de reduzida, era vibrante e as ruas zumbiam com a energia de inúmeros idiomas, um testemunho da capacidade cognitiva aprimorada pela mana que facilitava a comunica??o e o entendimento entre os habitantes diversos.

  Mercadores de todos os tipos vendiam artefatos exóticos, tecidos coloridos esvoa?avam ao vento, e os sons de músicas de diferentes povos se misturavam no ar. O aroma de especiarias e alimentos cozinhando enchia o ambiente, guiando-os através de uma experiência sensorial que apenas essa estranha na??o poderia oferecer.

  — Cada canto disso é espetacular — murmurou Brayner, quase babando ao encarar os escritos mágicos que adornavam as fachadas das lojas.

  — Realmente é incrível que tenham construído um lugar assim — respondeu Ana, admirando n?o só a cidade, mas o pequeno vislumbre do universo que adornava o céu a uma altitude t?o grande. — Apesar que, tirando a atmosfera surreal, é quase o bairro da liberdade. Talvez até um pouco menos estranho.

  Os outros se entreolharam confusos ao ouvir as palavras da garota e notarem seu sorriso nostálgico.

  — Liberdade? Meus pais já me contaram algumas histórias, acha que era t?o incrível quanto aqui? — perguntou Júlia, lembrando-se de animadas conversas de seu passado.

  “Merda, esqueci que eles eram apenas crian?as antes de tudo acontecer”, pensou Ana, percebendo que palavras indevidas escaparam.

  — Talvez as histórias que ouvi sobre o assunto tenham sido exageradas, foi só um pensamento que veio à minha mente. Enfim, vamos fazer o que viemos fazer, teremos muito tempo para ver tudo isso depois — fugindo rapidamente do assunto, a garota come?ou a caminhar em dire??o a grande taverna mercenária que, coincidentemente, ficava bem próxima aos port?es.

  Diferente do Madame Eclipse, que escolheu se ocultar nos cantos sombrios de Barueri, este era um ponto de encontro conhecido por todos os aventureiros que passavam por Leviathan. O edifício era robusto, com paredes adornadas com escudos e armas de inúmeras batalhas passadas. O nome da taverna, "O último Reduto", estava gravado acima da entrada em letras grandes e rústicas.

  Dentro do local, o ambiente era acolhedor e repleto de aventureiros compartilhando histórias de suas jornadas. No entanto, um estranho ar burocrático permeava o local, como se estivessem em meio a um caos controlado ao invés de uma desordem natural que se via comumente nas reuni?es mercenárias.

  — Me sinto novamente em uma guilda — resmungou Júlia, torcendo o nariz enquanto se aproximavam do balc?o.

  A recepcionista, uma mulher loira de fei??es suaves, mas olhar astuto, manejava papéis e pergaminhos com uma eficiência que contrastava fortemente com o resto do ambiente.

  — Como posso ajudá-los? — perguntou ela, sem levantar os olhos para o grupo.

  — Bem, temos alguns documentos para entregar — disse Ana, tirando os papéis de sua bolsa. — é um pedido especial da Madame.

  As m?os da mulher hesitaram por um momento, mas logo soltaram os papéis de forma decidida. Pegando os documentos das m?os da garota, ela come?ou verificar tudo, um de cada vez, acenando com satisfa??o ao terminar.

  — Te parabenizo, rainha de prata Ana. Tudo está em ordem.

  — Sei que sim, cuidei muito bem deles no caminho para cá. Ent?o… é isso? Podemos ir?

  — Mas é claro que n?o! — respondeu a recepcionista, soltando um sorriso de absurdo como se a mercenária tivesse dito algo extremamente atroz. — Por favor, assine neste ponto. E aqui. E mais uma vez aqui.

  Suas instru??es acompanhavam um extenso formulário, o qual a mercenária assinou rapidamente com um suspiro cansado, sem ler nem mesmo uma linha.

  Enquanto finalizava o processo, um homem alto, de postura imponente e cabelos grisalhos bem aparados se aproximou. Sua presen?a demandava aten??o, e n?o demorou muito para que sentissem seu olhar avaliador.

  — Ent?o você é a Ana, a fraca patrona que tem feito tanto barulho por esses dias? — ele perguntou, oferecendo um sorriso que mesclava respeito e um desafio tácito.

  — Sou sim, mas sobre ser fraca, depende de quem pergunta… você é forte o suficiente para aguentar meus ataques? — respondeu a mercenária, devolvendo o sorriso com uma dose de cautela.

  — Espero que n?o tenhamos que descobrir. Por sinal, me chamo De Pedro, o líder dessa companhia. Vi que completou a entrega, mas n?o sabia que viria t?o cedo, ent?o n?o estou com o pagamento neste momento. O que acha de recebê-lo em um jantar hoje à noite? Claro, o seu pequeno grupo também está convidado.

  — Claro, por mim tudo bem — Ana disse, trocando olhares com seus animados companheiros, que pareciam igualmente intrigados, exaustos e… famintos?

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