Os olhos de Ana analisaram rapidamente as criaturas à sua frente. Os lagartos gigantes pareciam se mover com uma estranha sincronia, seus corpos musculosos ondulando com precis?o predatória.
— Precisamos de uma estratégia — disse Felipe, tentando manter a calma. — Eles s?o muitos e estamos exaustos.
— Se passarmos despercebidos, talvez possamos evitar uma luta — sugeriu Júlia, embora a dúvida em sua voz fosse evidente.
Ana balan?ou a cabe?a, seus olhos focados nas criaturas.
— N?o podemos correr esse risco. Se formos atacados no meio da travessia, estaremos vulneráveis. Melhor lidar com eles agora, enquanto ainda temos algum controle da situa??o.
Com um aceno de cabe?a, o grupo se preparou para a batalha. Felipe ajustou sua prótese, carregando o último cartucho rúnico restante, uma fina bala com propriedades de ar. Sua existência se baseava em manter o poder com a press?o do vento para disparos a longa distancia, mas, n?o podendo correr o risco, ele planejava utilizá-la a queima roupa. Júlia, por outro lado, ergueu seu martelo, os músculos tensos em antecipa??o.
— Vamos tentar atrair apenas um deles — disse Ana, dando um passo à frente e lan?ando uma pedra em dire??o ao lagarto mais próximo. A criatura virou a cabe?a com um silvo amea?ador, avan?ando em dire??o ao grupo.
A batalha come?ou com um estrondo. Ana saltou para o lado, desviando-se das mandíbulas da criatura, enquanto Felipe tentou acertar suas costas com uma estocada de seu sabre, o qual foi repelido pelas duras escamas. Felizmente, no mesmo instante, Júlia trouxe seu martelo para baixo com um golpe poderoso, esmagando a cabe?a do lagarto.
— N?o s?o t?o fortes quanto parecem — sorriu a garota ruiva, balan?ando a arma para tirar os restos.
No entanto, o barulho atraiu a aten??o das outras criaturas. Elas se aproximaram rapidamente, e logo o grupo se viu cercado.
— Mantenham a forma??o! — gritou Ana, cortando metade do cranio de um lagarto que passou a seu lado. — N?o deixem que nos separem!
Felipe e Júlia lutaram ao lado dela, com o jovem servindo de isca enquanto a garota esmagava qualquer coisa que corresse ao seu lado. A exaust?o pesava sobre eles, mas a determina??o em sobreviver os impulsionava.
— Que droga! Achei que conseguiria manter isso para uma emergência — gritou Felipe, sendo obrigado a disparar a bala restante na cabe?a de um dos monstros que conseguiu fincar os dentes em sua perna esquerda.
— E tem alguma emergência maior do que essa? —gritou Júlia, atingindo um lagarto que disparou em dire??o a Alex, que foi deixado deitado no centro da forma??o.
Com um esfor?o concentrado, conseguiram derrubar algumas das criaturas, uma por vez. Vendo os companheiros morrerem, os largados tornaram-se mais hesitantes e, por fim, abocanharam alguns dos mortos de sua própria espécie e os arrastaram para a ponte de pedra, devorando-os lentamente enquanto encaravam a Ironia Divina com cautela, uma rendi??o velada para uma briga que poderia voltar a acontecer a qualquer momento.
— N?o parece que vamos conseguir atravessar. Vamos descansar aqui por agora, parecem ter comida suficiente por enquanto…
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Enquanto falava, Ana ajudou Júlia a deitar Felipe ao lado de seu irm?o. Sua perna sangrando precisava de primeiros socorros. Em silêncio, o grupo armou uma pequena fogueira, sempre mantendo a mesma vigia que os lagartos mantinham neles.
Ana pegou um dos lagartos mortos e o arrastou para perto do resto do grupo. Com cortes precisos na regi?o do abd?men da criatura, ela come?ou a remo??o da pele. Ossos, músculos e carne saíram sem resistência.
Após uma breve olhada para os estranhos órg?os, a mercenária decidiu n?o utilizá-los. A princípio, pensou em descartá-los no rio, mas acabou optando por jogá-los em dire??o dos seus inimigos recentes, os quais, apesar de confusos, lan?aram um tipo de olhar agradecido.
— Júlia, coloque um pouco de carne sobre a fogueira, vou descansar um pouco.
— Nós vamos comer isso? — exclamou a ca?adora, com uma clara express?o de nojo.
— Já verifiquei que n?o existem toxinas na carne.
— Mas…
— Você tem ideia melhor? N?o sabemos quanto tempo ficaremos aqui, n?o podemos gastar nossa ra??o seca sem pensar.
Júlia franziu os lábios, entendendo que as palavras de sua líder n?o estavam erradas. Pegando os peda?os sangrentos, ela come?ou a montar uma pequena grelha improvisada sobre o fogo, utilizando pedras próximas e as facas que levavam em suas mochilas.
Dando uma última olhada para o grupo, Ana fechou seus olhos. Ela era uma das únicas que estava em posi??o de lutar no grupo, ent?o sentiu a necessidade de manter sua energia no máximo
Era um mundo branco e infinito. Nele, nada existia, mas ao mesmo tempo parecia que tudo poderia ser contido.
— Ei, eu estou morta?
— Já te disse antes, eu n?o sei, sou só uma lembran?a mal feita.
— N?o vem com essa merda, eu parei de sonhar há muito, muito tempo atrás — resmungou a garota, franzindo a testa. — N?o pode ser uma coincidência que você esteja sempre aqui.
— Bem, você me pegou, mas n?o estou mentindo — riu o anjo, cobrindo sua pequena boca com uma das m?os. — Sou um resquício preso no tempo, uma lembran?a do que já fui um dia.
— Um resquício… ent?o você n?o sabe o que aconteceu?
— Apenas até o momento em que o selo foi colocado em você, mas pelas suas visitas, imagino que o meu eu completo já n?o esteja a seu lado.
— Certo, mas me diga, eu estou morta? — repetiu a garota milenar, dessa vez com um tom mais sério.
— Por que me pergunta isso?
— Eu n?o sou capaz de absorver mana. Desisti de pensar profundamente nisso, mas descobri recentemente que geralmente isso só é possível em uma situa??o… quando estamos mortos.
Com as palavras de Ana, o sorriso de Gabriel mudou, tornando-se o mesmo que a garota já vira milhares de vezes no passado, um sorriso radiante que n?o era refletido em seus olhos.
— Mana? — sua voz tremia, uma indigna??o surgindo do fundo de seu amago — Como está o mundo atualmente?
— N?o tenho como explicar isso muito bem… a Terra e uma tal de Aurórea viraram um só e… bem, você foi puxado por umas correntes estranhas no processo. Por sinal, você podia ter me avis…
— Quieta, desgra?ada! — cortando as palavras de Ana, Gabriel gritou palavras ríspidas. Sua express?o era de uma fúria genuína, algo que Ana nunca havia visto nos seus mil anos juntos. — N?o sei o que minha outra vers?o incompetente fez, mas pelo jeito você é apenas outro erro, n?o melhor do que todas aquelas sombras ignorantes.
Sem qualquer aviso, a cópia afundou no ch?o, deixando o local em um silêncio pacífico. Ana suspirou e sentou-se em meio ao nada, ela já esperava que essa conversa n?o levasse a lugar nenhum.
— Ana! Ana! Acorda, por favor! — com um tom de desespero, Júlia chacoalhou a adormecida rainha mercenária, a tirando de seus devaneios.
Ana despertou imediatamente, sua express?o mudando de confus?o para alerta em segundos enquanto tirava a espada de sua bainha, preparada para o que viesse.
— O que houve? — perguntou, a voz tensa.
— é o Felipe. Ele está com febre e... tem pus amarelo saindo da ferida — a voz da garota tremia levemente durante a explica??o.
Ana guardou a arma e se ajoelhou ao lado do garoto, examinando rapidamente a ferida. Ele estava delirando, a perna claramente infeccionada.
— O que houve? — perguntou, a voz tensa.
“N?o vamos ter tempo para tratar isso da forma adequada”, pensou, sentindo o intenso odor pungente do ferimento. Os lagartos estavam inquietos, suas cabe?as levantadas e corpos tensionados, como se esperassem um momento de fraqueza do grupo.
— Aque?a as laminas no fogo — ordenou ela. — Vamos precisar fazer isso rápido e com o máximo de precis?o possível.
Júlia assentiu, correndo para cumprir a ordem.
— Vai ficar tudo bem. Vamos tirar você dessa — Alex, o qual havia acordado a pouco em um estado ainda enfraquecido, estendeu a m?o para o irm?o, murmurando palavras de encorajamento com uma voz cheia de preocupa??o.
— Felipe, isso vai doer, mas pense pelo lado bom… — murmurou Ana com um sorriso, pegando uma longa faca ainda em um escarlate fervente das m?os da ca?adora ruiva e posicionando-a sobre a perna do garoto. — Você vai ganhar uma nova prótese pros seus testes.
Colocando for?a no utensílio em sua m?o, ela fez o corte, e o grito de Felipe ecoou pela caverna, misturando-se ao som da água gotejando e ao farfalhar inquieto dos lagartos.
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